Integrais por partes: Onde e como usar o método

Criada a partir da regra do produto, a integração por partes consiste em um processo específico que visa simplificar uma integral que é o produto de certas funções. Nesse artigo explicarei o que é, como aplicar e de onde surge esse método de integração.

O que é a integração por partes?

A integração por partes é uma técnica utilizada para calcular integrais de funções que são produtos de outras funções. Essa técnica é muito útil quando a integral que queremos calcular não possui uma forma direta de solução ou quando o método da integração por substituição não se aplica. A equação utilizada no processo de integração por partes é a seguinte:

udv=uvvdu

Nessa expressão, definimos dois termos: u e dv. A ideia é derivar u para encontrar du e integrar dv para obter v. O processo simplificará a integral original. Escolher de forma correta os termos “u” e “dv” será o que fará a integral ser simplificada ou complicada, sendo de suma importância escolher corretamente qual função será “u” e qual será “dv”.

Exemplos de integrais por partes: 

1) x.ln(x)dx

2) x.exdx

3) x.sen(x)dx

O que é e como usar o LIATE?

O LIATE é uma sigla que nos ajuda a escolher u e dv corretamente. Essa regra considera a ordem preferencial de escolha das funções:

  • L: Logarítmica (ln(x))
  • I: Inversa trigonométrica (arctan(x), arcsin(x), etc.)
  • A: Algébrica (xn)
  • T: Trigonométrica (sin(x), cos(x), etc.)
  • E: Exponencial (ex)

Para escolher o “u”, daremos prioridade as funções que estão no topo da lista acima, na ordem que elas aparecem, de cima para baixo. Como teremos o produto de duas funções originalmente, se escolhermos o “u”, por eliminação, a outra função será o “dv”.

Como realizar a integração por partes?

O processo é relativamente simples, pois consiste apenas em escolher uma função para ser u e a outra para ser dv, achar du ao se derivar u, achar v ao integrar dv e substituir na equação udv=uvvdu. Uma vez que você entender como utilizar o método, verá que é mais simples do que parece. 

Exemplo 1: Integre a função abaixo.

x.ln|x|dx

Temos que integrar uma função que é o produto entre duas funções: x e ln|x|. Inicialmente, temos que escolher quem é u, e para isso, usaremos o LIATE. Nessa questão, temos uma função logarítmica e uma função algébrica, e de acordo com o LIATE, a função logarítmica tem preferência ao ser escolhida como u, então, nosso u será a função ln|x|, consequentemente, o dv será a função x (uma observação: a função que for escolhida como dv deve estar acompanhada do diferencial dx). 

u=ln|x|

dv=xdx

O segundo passo consiste em acharmos du e v, para achar du, basta derivarmos a função u em relação à x, pois fazendo isso teremos:

dudx=ddx[ln|x|]

Então, derivamos a função x e isolamos o du

dudx=1x

du=1xdx

du=dxx

Em seguida, encontramos quem é v e como a integral é a operação inversa da derivada, ao integrarmos dv, acharemos v.

dv=x

dv=xdx

v=x22

Substituímos u, dv, du e v na equação da integração por partes:

udv=uvvdu

ln|x|.xdx=ln|x|x22x221xdx

E para finalizar, simplificamos as expressões e resolvemos a integral restante.

ln|x|.xdx=ln|x|.x22x2dx

ln|x|.xdx=ln|x|.x22x24+C

Exemplo 2: Calcule a primitiva da função:

x.exdx

Novamente, temos uma multiplicação entre duas funções, onde o método de substituição não irá no ajudar (quer saber o porquê de não podermos usar esse outro método? Dá uma conferida  no nosso artigo sobre ele). Então, vamos utilizar a integração por partes, primeiramente, escolhemos nosso u, que dessa vez será o x, pois a função algébrica tem maior prioridade do que a exponencial (lembremos do LIATE).

u=x

dv=exdx

Derivamos o u e integramos o dv para acharmos du e v, respectivamente.

Encontrando du:

dudx=ddxx

dudx=1

du=1dx

du=dx

Achando v:

dv=exdx

dv=exdx

v=ex

O próximo passo é substituir na equação udv=uvvdu

x.exdx=xexexdx

x.exdx=x.exex+C

Origem da integração por partes

Tomemos uma função f(x) qualquer, que consiste no produto entre outras duas funções u(x) e v(x).

f(x)=u(x)v(x)

Quando temos uma igualdade, podemos fazer qualquer coisa, desde que façamos em ambos os lados dela. Seguindo essa premissa, podemos derivar ambos os lados da equação acima (lembre-se que equação é uma expressão matemática que possui uma igualdade).

f(x)=(u(x)v(x))

Para derivar um produto de funções utiliza-se a regra do produto (a demonstração da regra do produto está em um outro artigo, para quem estiver curioso).

(u(x)v(x))=u(x)v(x)+u(x)v(x)

Podemos integrar ambos os lados da igualdade.

(u(x)v(x))=[u(x)v(x)+u(x)v(x)]

Utilizando a propriedade da integral da soma, teremos:

(u(x)v(x))=u(x)v(x)+u(x)v(x)

Como a integral é o inverso da derivada, no lado esquerdo da equação ficará apenas o produto entre as funções u(x) e v(x).

u(x)v(x)=u(x)v(x)+u(x)v(x)

Agora passamos o termo u(x)v(x) para o lado esquerdo da equação, subtraindo.

u(x)v(x)u(x)v(x)=u(x)v(x)

u(x)v(x)=u(x)v(x)u(x)v(x)

Para simplificar a notação, utilizarei u e v no lugar de u(x) e v(x) e ao invés de utilizar u e v utilizarei apenas du e dv.

udv=uvduv

Reorganizando a expressão teremos por fim:

udv=uvvdu

Mas afinal, como que essa expressão acima representa a integral entre o produto das funções u(x) e v(x)? A integral é a primitiva da função que está no integrando, ou seja, calcular a integral de uma função f(x) é achar uma função original, que ao ser derivada, resulta em f(x), e chamamos essa primitiva de F(x). Formalmente, de acordo com  a primeira parte do Teorema Fundamental do Cálculo (TFC), a primitiva de uma função f(x) qualquer é a função tal que:

F(x)=f(x)

Levando em conta que F(x) representa a integral da função f(x), e que derivando F(x) devemos obter necessariamente f(x) (integrando), vamos pensar um pouco, inicialmente tínhamos uma função f(x)=u(x)v(x), utilizando essa informação e o fato de que f(x)dx=F(x) podemos escrever a seguinte expressão:

f(x)dx=F(x)

u(x).v(x)dx=F(x)

Utilizando o TFC, temos que:

F(x)=u(x).v(x)

Ou seja, se o resultado da equação:

udv=uvvdu

É igual a F(x), se derivarmos isso, devemos obrigatoriamente chegar no produto entre as função u(x) e v(x). Irei pegar o segundo exemplo resolvido nesse artigo para mostrar isso na prática.

x.exdx=x.exex+C

A derivada de x.exex+C tem que resultar em x.ex.

F(x)=x.exex+C

F(x)=(x.exex+C)

F(x)=(x.ex)(ex)+C

F(x)=ex+x.exex+0

F(x)=x.ex

Uma vez que x.ex é o integrando, temos  x.ex=f(x), que por sua vez resulta em:

F(x)=f(x)

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