A história dos infinitos e como eles mudaram a matemática

Poucos conceitos são tão fascinantes — e ao mesmo tempo tão perturbadores — quanto o infinito. Ele instiga nossa imaginação e desafia nossa lógica. Afinal, como algo pode não ter fim? Como podemos entender o tamanho de algo que nunca termina? Ao longo da história, o infinito passou de tabu filosófico a ferramenta indispensável na matemática moderna, sendo essencial em áreas como cálculo, teoria dos conjuntos e física teórica. Mas essa jornada foi tudo menos simples.

Na Grécia Antiga, o infinito era um tema delicado. Para pensadores como Aristóteles, o infinito atual — ou seja, uma quantidade realmente infinita — simplesmente não existia. Ele aceitava apenas o infinito potencial, como um processo que nunca termina: por exemplo, sempre é possível contar mais um número, mas nunca se chega ao infinito.

Paradoxos como os de Zenão — especialmente o da corrida entre Aquiles e a tartaruga — questionavam se o infinito podia ser real. Esses paradoxos se apoiavam na divisão infinita do espaço e do tempo, algo que parecia contraditório à experiência do mundo físico. Para os gregos, o infinito era mais uma ameaça à razão do que um conceito matemático válido.

Durante a Idade Média, o conceito continuou envolto em questões teológicas e filosóficas. O infinito era visto como uma característica exclusiva de Deus — logo, intocável pelo raciocínio humano. Foi apenas com o Renascimento e a explosão do pensamento científico que o infinito começou a ser examinado sob uma ótica mais matemática.

O surgimento do cálculo infinitesimal, nos séculos XVII e XVIII, revolucionou essa visão. Isaac Newton e Gottfried Leibniz, independentemente, desenvolveram o cálculo usando o conceito de quantidades infinitamente pequenas — embora ainda sem rigor formal. Eles falavam de “fluxões” ou “diferenças infinitesimais” para descrever movimento e variação contínua.

Mesmo assim, o infinito era manipulado com cautela — mais como ferramenta heurística do que como conceito totalmente compreendido.

O grande salto conceitual ocorreu no final do século XIX, com o matemático alemão Georg Cantor. Ele foi o primeiro a tratar o infinito com o mesmo rigor aplicado a quantidades finitas, inaugurando a teoria dos conjuntos.

Cantor mostrou que nem todo infinito é igual: o conjunto dos números naturais é infinito, mas o conjunto dos números reais é ainda “mais infinito” — ou seja, tem uma cardinalidade maior. Ele definiu os chamados números transfinitos e introduziu uma nova forma de pensar o infinito como algo quantificável.

Essa ideia foi revolucionária — e também muito controversa. Cantor enfrentou resistência e críticas duras de colegas e chegou a sofrer crises emocionais. No entanto, sua teoria foi posteriormente reconhecida como um dos pilares da matemática moderna.

Hoje, o infinito está no coração da matemática e da física. Ele aparece na análise matemática (limites, séries infinitas, integrais), na topologia (conjuntos infinitos abertos), na cosmologia (universo finito ou infinito?), e até na computação teórica.

A noção de infinito também nos permite discutir questões como:

  • Existem mais números reais do que naturais?

  • O universo é finito ou se expande infinitamente?

  • Podemos dividir o espaço ao infinito?

Além disso, conceitos como o infinito no tempo — usado em modelos cosmológicos — ou o infinito em pequenas escalas, como nos buracos negros, são essenciais para o entendimento de nosso universo.

O infinito percorreu um caminho surpreendente — de um conceito quase proibido a uma das ideias mais fundamentais da matemática moderna. A resistência inicial dos filósofos antigos e medievais, compreensível diante da complexidade do conceito, foi superada por séculos de avanços matemáticos e teóricos. Hoje, o infinito não é apenas uma abstração: é uma ferramenta poderosa que nos ajuda a entender tudo, do comportamento de uma função até a estrutura do cosmos. O que era tabu, tornou-se essencial.

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